NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO MOTOR DE ESTUDANTES DO 6° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Rômulo Andrade de
Siqueira, Rosana da Silva Machado, Tailaine Curthy Barbosa, Sissi
Aparecida Martins Pereira, Susana Targino, Camila Valente de Barros
Moreira
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ
Subprojeto Licenciatura em Educação Física
Coordenador de Área: Sissi Aparecida Martins Pereira
Supervisor: Marcos André
Escola: Escola Municipal Pastor Gerson
O termo
psicomotricidade apareceu pela primeira vez com Dupré em 1920,
significando um entrelaçamento entre o movimento e o pensamento
(OLIVEIRA, 2009, p.28). O prefixo psico atribui-se à mente, e o sufixo
motricidade ao movimento, daí o surgimento do termo psicomotricidade,
muito utilizado na Educação Física, visto que, esta disciplina trabalha
dentro de seus conteúdos a aprendizagem do movimento. As aulas de
Educação Física se baseiam nas brincadeiras, nos jogos, nos gestos
motores, para se obter o aprendizado de seus conteúdos; o aluno
interpreta escrevendo, fazendo e sentindo, assim são trabalhadas as
seguintes áreas: cognitiva, afetiva, social e psicomotora. “Entendemos
como função psicomotora as estruturas cognitivas utilizadas para
solucionar problemas por meio de ações motrizes”. (MATTOS E NEIRA, 2006,
p.19). Toda criança em fases específicas de seu desenvolvimento passa
por alguns questionamentos: que parte é essa do meu corpo? Que lado eu
escrevo, direito ou esquerdo? Posso explorar todos os lugares que vejo?
Consigo correr e jogar a bola ao mesmo tempo? A preocupação surge à
medida que esta criança cresce e não consegue solucionar seus
questionamentos, dificultando dessa forma seu desenvolvimento
psicomotor. Dentre as condutas motoras de base trabalhadas por OLIVEIRA
(2010), as que foram abordadas e estudadas no referido trabalho são:
coordenação e equilíbrio, esquema corporal, lateralidade e organização
ou estruturação espacial. Coordenação e equilíbrio são qualidades
essenciais ao desenvolvimento psicomotor. A primeira refere-se à
habilidade de se realizar movimento de uma ou mais partes do corpo de
forma harmoniosa e intencional. Esta que pode ser de duas formas.
Coordenação motora ampla: é o tipo de coordenação em que controlamos
partes maiores de nosso corpo e esta relacionada à movimentação de
grandes grupamentos musculares, como por exemplo, o ato de caminhar. A
coordenação motora fina esta relacionada à capacidade de realizar a
movimentação de pequenos músculos para a realização de tarefas mais
precisas, como por exemplo, o desenho ou a escrita. A segunda é
referente à capacidade de se manter o corpo sustentado sobre uma base, e
este pode ser de 3 tipos: estático, que se refere ao equilíbrio sem
movimento, dinâmico - refere-se ao corpo em movimento, e o recuperado
que ocorre após um giro ou um salto, por exemplo. O bom desenvolvimento
destas funções psicomotoras acontecerá por meio dos diversos tipos de
vivencias entre a criança e o meio, isto geralmente começa a acontecer
no âmbito familiar e, posteriormente, na escola que passa a ser o
primeiro contato da criança com um ambiente fora do contexto familiar. O
esquema corporal é basicamente a representação e o conhecimento que o
indivíduo tem de seu próprio corpo no ambiente sendo desta forma de
fundamental importância para o desenvolvimento psicomotor do indivíduo
durante a infância. O desenvolvimento do esquema corporal acontece à
medida que ocorrem as trocas de sensações entre a criança e o meio. A
partir destas trocas de sensações a criança vai absorvendo-as e
conhecendo melhor seu próprio corpo e o meio ambiente ao seu redor. O
desenvolvimento do esquema corporal se dá através das experiências
vividas por cada individuo o qual possui uma noção de esquema corporal
diferente dos demais. Lateralidade é a escolha de um lado do corpo para
uma determinada função, podendo ser atribuída a um só lado ou a ambos os
lados. Complementando, a literatura (LE BOULCH (1986), PEREIRA (2011),
OLIVEIRA (2009)) refere que a criança pode desenvolver uma lateralidade
homogênea destra, quando predomina o desenvolvimento motor do lado
direito, lateralidade homogênea canhota ou sinistra, para o predomínio
do lado esquerdo, ambidestra, quando há o desenvolvimento bem definido
dos movimentos dos dois lados do corpo, além destas, o indivíduo pode
desenvolver a lateralidade cruzada, na qual determinadas funções são
realizadas com apenas um lado em um segmento corporal e tantas outras
realizadas apenas com o lado oposto em outro segmento. Contudo eles
também ressaltam que este desenvolvimento deve acontecer de uma forma
livre, sem ser forçado. A organização ou estruturação espacial nada mais
é do que a capacidade do indivíduo em estruturar mentalmente um espaço
objetivado, e por meio desse trabalho mental, selecionar, comparar os
diferentes objetos, extrair, agrupar, classificar seus fatores comuns e
chegar aos conceitos desses objetos. Orientando-se, dessa forma, nesse
espaço e percebendo essas mudanças na direção e no tempo em que elas
ocorrem para que organizem as coisas entre si, coloque-as em um lugar,
movimente-as (PEREIRA, 2011). Para que a criança seja capaz de
representar mentalmente o seu corpo e os objetos no espaço prevendo e
antecipando suas ações é necessário que ela conheça a si mesma e o
espaço que a cerca e não só estejam presentes características como
essas, mas também a presença de outros elementos fundamentais como:
consciência corporal, certo senso de lateralidade e direção. Corpo,
espaço e tempo são elementos, muitas das vezes, inseparáveis na
representação dessa estrutura, pois, inúmeras formas de comportamento e
movimento dependem da informação sobre as relações espaciais, como a
direção, distância, e a orientação de objetos no ambiente. O conceito de
psicomotricidade é utilizado por diferentes áreas como Psicologia,
Psiquiatria, Neurologia, Reeducação, Orientação Educacional e outros
profissionais que trabalham com crianças, contudo é na Educação Física
que é dado um enfoque prático e educacional para o desenvolvimento da
temática apresentada. Essa área trabalha e desenvolve principalmente
pelo e para o movimento buscando um enfoque na saúde física e mental do
ser humano. A criança para fazer qualquer movimento precisa antes pensar
nele, desta forma ela necessita desta função para se locomover,
brincar, aprender e conhecer o mundo. A psicomotricidade não soluciona
todos os possíveis déficits motores como sincinesias, lateralidade mal
estabelecida, dentre outros, porém auxilia na detecção dos mesmos
possibilitando um trabalho específico. Sendo este um dos conteúdos que
foi trabalhado em uma das escolas selecionadas pelo Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Os problemas
encontrados no ambiente escolar são decorrentes de inúmeros fatores,
desta forma não se pode afirmar que somente a psicomotricidade pode
resolvê-los, embora possa ajudar em alguns casos. O referido trabalho
teve como base os exames psicomotores que foram elaborados por OLIVEIRA
(2010), em seu livro: Avaliação psicomotora à luz da psicologia a da
psicopedagogia. A pesquisa foi desenvolvida através de um estudo
quantitativo, que pretende investigar o nível de desenvolvimento
psicomotor de 3 turmas do sexto ano do ensino fundamental, com faixa
etária entre 11 a 16 anos, de uma Escola Municipal , situada no
município de Seropédica - Rio de Janeiro. A pesquisa foi realizada no
segundo semestre de 2011 com 32 alunos da devida escola. De acordo com
os resultados, na habilidade de coordenação e equilíbrio as crianças na
faixa etária de 11 a 12 anos, 41% possuem um estágio de desenvolvimento
IIB, ou seja, presença do corpo representado correspondente a uma
criança de 10 a 11 anos; 53% possuem desenvolvimento IIA, que significa
reorganização do corpo percebido relativo à faixa etária de 8 a 9 anos, e
6% dos analisados possuem um estágio de desenvolvimento motor IB,
correspondente a crianças de 5 a 6 anos. Os alunos com idade entre 13 a
14 anos encontram-se na seguinte classificação: 56% no nível IIB
(característico das idades de 10 a 11 anos) e 44% na indicação IIA
(característico da idade de 8 a 9 anos), que nos mostra um
desenvolvimento aquém da idade atual. Com relação ao esquema corporal na
faixa etária de 11 a 12 anos, 8% se encontram em um nível de
desenvolvimento relativo à crianças de 7 anos, 31% apresentam
desenvolvimento de crianças de 8 a 9 anos e 61% se equiparam à crianças
de 10 a 11 anos, portanto, já a amostra com idade entre 13 a 14 anos,
12% se encontram num nível de desenvolvimento de crianças de 5 a 6 anos,
25% se equiparam a crianças de 7 anos, 25% se encontram em um nível de
desenvolvimento de crianças de 8 a 9 anos e 38% em um nível de 10 a 11
anos. Apesar de pequena a amostra de indivíduos com idade de 15 a 16
anos também está muito aquém do nível de desenvolvimento do esquema
corporal, apresentando déficit acentuado no desenvolvimento do esquema
corporal, ou seja, 25% da amostra encontra-se em nível de
desenvolvimento de crianças de 8 a 9 anos e 75% encontra-se em um nível
de desenvolvimento de crianças de 10 a 11 anos. No que se refere à
lateralidade os alunos ficaram abaixo do esperado. A faixa etária de 11 a
12 anos apresenta 54% na pontuação IIA que corresponde à idade entre 8 a
9 anos. Os outros 46% estão na pontuação IIB que é correspondente à
idade de 10 a 11anos. Na faixa etária de 13 a 14 anos, 78% ficaram na
colocação IIA (de 8 a 9 anos) e os outros 22%, ficaram divididos
igualmente entre, II (correspondente à 7 anos) e IIB ( referente a faixa
etária de 10 a 11 anos). Neste contexto, existe uma distância maior
entre o desenvolvimento psicomotor real do aluno e o seu desenvolvimento
esperado. O teste também foi aplicado em 3 alunos de 15 anos e um de 16
anos, e seus resultados foram alarmantes: 2 alunos foram classificados
no estágio IIA (8 a 9 anos) e 2 alunos no estágio IIB (10 a 11 anos).
Com relação à organização espacial podemos observar que 54% das crianças
com idade entre 11 e 12 anos apresentaram resultados referentes à idade
de 8 a 9 anos, 38% atribuem-se a crianças de 10 a 11 anos de idade e 8%
a crianças referente à faixa etária de 7 anos. 83% das crianças com 13 e
14 anos de idade foram classificadas no estágio de crianças de 8 a 9
anos. Enquanto que, 17% corresponderam ao estágio correspondente à faixa
etária de 10 a 11 anos. Observamos que, as mudanças não são muitas,
porém os dados se expressam aquém do esperado para os 3 jovens com idade
de 15 e 16 anos, sendo que 2 deles possuem a característica psicomotora
de orientação espacial de crianças de 8 a 9 anos de idade, enquanto 1
apresenta de 10 a 11 anos. Os dados obtidos de toda a amostra ressaltam
que os participantes não possuem o desenvolvimento correspondente a sua
idade, e nos põe a refletir sobre os inúmeros problemas que levaram
essas crianças, e possivelmente muitas outras, a não desenvolverem
satisfatoriamente suas funções motoras. O papel do educador físico, dos
pais superprotetores que por medo de não deixam seus filhos viverem as
experiências do brincar, modernidade que inunda nossas crianças com
meios eletrônicos afastando-as do tocar, descobrir, saltar, brincar,
correr e, por fim a escola, que é o primeiro ambiente que as crianças
conhecem fora do familiar e onde se socializam, deve ser repensada,
priorizando um melhor trabalho na formação de um ser completo. Suas
vivências estão escassas e cabe não só ao educador físico resgatá-las,
mas também aos outros professores, pois sabemos que as atividades dentro
da educação física escolar são de suma importância, não só para o
desenvolvimento motor de uma criança, como também para seu
desenvolvimento intelectual, o que transmite a esses jovens um melhor
desempenho em grande parte das disciplinas escolares.
Palavras-chave: Psicomotricidade, Escola, Educação Física, PIBID
Referências:
BRASIL. Ministério da Educação.
Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília:
MEC/Secretaria de Educação Fundamental, 1998.
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OLIVEIRA, Gislene C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque
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OLIVEIRA, Gislene C. Avaliação psicomotora à luz da psicologia e da
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